O desafio de ser professor-educador de crianças TEA

O desafio de ser professor-educador de crianças TEA

Por Clunny Cambria*

 

Muitos me perguntam como é ser professora-educadora de crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

O caminho desse profissional é desafiador, intrigante e instigante… Um caminho de buscas contínuas e incessantes, pois a tarefa educativa talvez seja a experiência mais tocante e plena que o professor educador pode ter. Esta relação professor-aluno testa os instrumentos e aptidões profissionais, a habilidade de doação, elaboração, transformação e transgressão.

E esta experiência remodelou a minha vida e o meu olhar mais atento, pois abriu-me para um novo conceito de mundo o qual comecei a refletir e a buscar maneiras em que eu poderia assistir esses alunos TEA, a se inteirarem de um mundo repleto de significados e de conexões humanas tão significativas.

Aprendi a meditar nas minhas ações a partir do instante em que comecei a executá-las e essa atitude me permitiu observar, organizar, transformar e principalmente, reestruturá-las para atender esses alunos dentro de suas especificidades e singularidades.

O TEA é um transtorno do desenvolvimento que implica em três segmentos específicos:

– Dificuldade de interação social, na empatia, reciprocidade e atenção social;

– Déficits de comunicação social, inclusive, nas linguagens social e contextual;

– Comportamentos repetitivos e restritos. Apresentam estereotipias, ecolalia, preferências por determinados objetos e também apresentam distúrbios de sensibilidade (audição, tato e paladar). Lembrando que a estereotipia é um sinal clínico muito comum nos TEA, tornando-se até mesmo inquietante, porque esses movimentos repetitivos acabam restringindo esses alunos de alguma atividade social e da interação social, tão importante para eles.

O que diferencia essas pessoas no espectro autista é a intensidade dos sintomas, que são divididos em leve, moderado e severo.

No entanto, cada caso é um mundo particular.

Duas pessoas com aptidões e limitações bem diferentes, uma com traços leves e outra com dificuldades severas fazem parte desse mesmo espectro autista, pois todas elas apresentam ao menos dois traços representativos dentro dos três segmentos específicos apresentados acima.

Cada aluno TEA é um indivíduo único assim como nós, mas, todos, sem exceção são capazes de aprender desde que criemos possibilidades para a construção do conhecimento. Se não aprendem da maneira que os ensinamos, então, os ensinamos da maneira que aprendem, que é a linguagem iconográfica, figuras e imagens como apoio ao assunto abordado. Eles necessitam de escolas e profissionais que são capazes de valorizá-los em sua essência e estimulá-los a interagir com o outro, a explorarem o mundo já que estes são “estrangeiros” em qualquer lugar que estejam. E nós assumimos um sistema e um entendimento compartilhados, repletos de sinais e definições que eles não compreendem. A partir destes, inclusive da inter-relação, é que conseguimos estabelecer ligações muito positivas, motivando a participação social e educacional.

Somos uma bússola, edificadores de vidas, referências que instruem, dirigentes de diversas gerações capazes de aguçar modificações. E ensinar é criar viabilidades para o desenvolvimento do aprendizado para esses nossos alunos que mesmo “pensando diferente”, têm sede pelo conhecimento.

Mas, para isso não basta ser apenas professor, aquele apenas com formação acadêmica que o designa para tal exercício. É necessário ser desprendido de metodologias, arquétipos determinados, de estereótipos e prejulgamentos. É de extrema importância suplantar-se da figura de professor para professor-educador.

*Clunny Cambria é psicopedagoga especialista em TEA

 

 

Leave a Reply

Your email address will not be published.

Skip to content